Atualidade dos Dons Espirituais

12-02-2014 19:35

ACTUALIDADE DOS CARISMAS EM 1CORÍNTIOS

Walace Francisco dos Anjos

Igrejas ditas "evangélicas"[1] enfrentam um dilema interno, provocado pelo conflito entre o crer na atualidade de alguns dons relacionados em 1Corintios 12-14 e outras não. A problemática tem sido vista nos debates promovidos pelas webs rádio Amazon Góspel e pela rádio A Cor da Vida, onde pastores representantes das igrejas não carismáticas, carismáticas e até pentecostais, apresentam-se e discutem as situações. Outrossim, a problemática é confirmada também nas redes sociais dos crentes pertencentes a essas igrejas. Interrogo-me sobre a influência do facto de que algumas igrejas não acreditam na atualidade de todos os nove dons relacionados em 1Corintios 12-14, em pleno uso na igreja hoje; e porquê a negligência em três deles, especialmente línguas, profecia e dons de curar. A presente pesquisa é um dos capítulos de um trabalho mais detalhado que terá lugar a tese/dissertação de mestrado, sendo esta limitada aos dons de curar, profecia e línguas. Diante das questões mencionadas, pretendemos: Fazer uma análise sucinta do problema histórico/teológico dos pensamentos (1) cessacionistas e (2) continuístas; (3) apresentação das etapas que exige a exegese; (4) a exegese em si de 1 Coríntios 12-14 com foco nos dons de línguas, profecias e curas; por fim, avaliações conclusivas e exegéticas gerais. O objetivo é verificar com base na exegese, o que realmente o texto diz sobre os dons espirituais em 1 Coríntios, incluindo os três mais "polémicos". A presente pesquisa é feita a partir da perspectiva da tradição pentecostal clássica. Isto é, segue em termos gerais a tradição reformada; porém, com abertura na atualidade dos dons relacionados no Novo Testamento e algumas divergências na Soteriologia. Para iniciar o proposto analisemos o problema histórico dos cessacionistas.

 

HISTÓRIA DO PROBLEMA

 

1. OS CESSACIONISTAS

O movimento que deu origem à teoria/corrente cessacionista, teve início no exagero provocado pelos montanistas, entre os anos 185 e 212 d.C, onde na tentativa de resgatar os charismas na Igreja, acabou por colocar as declarações proféticas de Montano, ao pé de igualdade com as Escrituras  (Synan,  2009:34-35). Para combater o exagero, Agostinho afirmou:

Nos primeiros dias da Igreja, o Espírito Santo desceu sobre os crentes, e eles falavam em línguas que não haviam aprendido, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Isso se constituiu um sinal para aquele tempo: todas as línguas do mundo era importantes para o Espírito Santo, porque o evangelho de Deus teria seu curso por meio de cada idioma, em todos os lugares da terra. O sinal foi dado e então expirou. (Synan,  2009:34-58).

 

Synan, menciona dois outros teólogos, que destacam-se com a influência de Agostinho, João Crisóstomo e Lutero. Mas como os referidos não foram suficientes para emudecer os que criam, o falar em línguas não aprendidas passou a ser visto como uma possessão de espíritos malignos (Synan, 2009:36,37). Foi assim que a cessação dos charismas tomou forma e encontrou um "lar" na teologia clássica da igreja ocidental, passou pela reforma protestante, e chegou ao século XXI.

Matos (2013), afirma que os reformadores, bem como teólogos anónimos apoiavam o cessacionismo em nome da ordem no culto, liturgia reverente e respeitosa diante do Soberano. O que não era aceito pelos Católicos Romanos que pediam sinais e maravilhas como autenticidade de que eram verdadeiros e ortodoxas igrejas cristãs (Synan, 2009:37). Matos (2013), também chega a dizer que, como fruto do movimento metodista wesleyano,  foi que por volta do dos anos 1900, houve uma outra tomada de posição por parte dos teólogos reformados, numa tentativa de resgatar o cessacionismo, uma vez se que expandia o movimento pentecostal. Mais tarde vieram outros movimentos, entre eles  o neo-pentecostalismo e o movimento carismático católico romano com suas práticas. Atravessando séculos, o cessacionismo encontra outros adeptos que combateram o uso dos três dons em pauta, considerando desnecessários e findos. Entre eles encontra-se:  

Langston, A.B - Como discípulo de Strong e Mullins, afirma que maravilhas, línguas, fogo... Eram coisas passageiras, e naturalmente, passaram com o decurso de tempo (Langston, 1994:160-167).

Gaffinin, R.B - Este cessacionista participa de um debate promovido em 14 e 15 de Novembro de 1995, de portas fechadas após ter lido bastante e escrito sobre as posições continuísmos e cessacionismos com o propósito de esclarecer e tentar responder a seguinte pergunta: Como o Espirito Santo atua nas Igrejas hoje (Grudem, 1996:8-15)? Para Gaffinin, não existe uma segunda experiência ligada ao Pentecostes. Isto porque o Pentecostes foi único e faz parte da história da salvação e não à ordem da salvação como evento contínuo e a ser consumado no decurso da história, à medida que os indivíduos vão crendo e tomando posse dela. Inclusive como o batismo de João (em águas) está ligado à obra única de Cristo no calvário (Lc 3), devendo ser feito uma única vez, assim também foi o Pentecostes. Portanto não é possível que o Pentecostes (a manifestação visível de línguas desconhecidas ou não aprendidas) repita-se hoje. A única experiência possível hoje é "na" comunhão do corpo de Cristo (ou seja: na conversão) e não subsequente (Grudem, 1996:28-37).

Entretanto, não parece ser isto que apontam os sucessivos acontecimentos pós-Pentecostes em Atos (At 8.14s.; 10.44-48; 11.15-18; 19.1-7). Exatamente por tratar-se de contextos diferentes (Pentecostes/judeus, Samaria/Gentios e Éfeso/judeus e gentios),

já que não parece-nos razoável que o assunto fica resolvido aqui, apontaremos algumas razões na conclusão parcial após apresentação dos problemas históricos. Logo faz todo sentido buscar mais luzes sobre o assunto, e é de suma importância ver o que dizem outros pesquisadores.

John R. W. Stott – Não acredita na atualidade do dom (línguas) no NT, e questiona a legitimidade do falar em línguas usando a frase "edifica a si mesmo":

"No Novo Testamento, a "edificação" invariavelmente é um ministério voltado para as outras pessoas. A palavra grega oikodomeô significa literalmente "construir" – cidades, casas, sinagogas, etc. É aplicada figuradamente à Igreja. A partir deste significado básico, a palavra passou a ser usada no sentido de "fortalecer, estabelecer, fazer crescer em número e maturidade" cristãos e igrejas. Lucas escreve que a Igreja na Palestina estava "edificando-se", e Paulo escreve que sua autoridade apostólica tinha-lhe sido dada "para edificação" (Atos 9:31; 2 Cor. 10:8; 12:19; 13:10)" (Stott, 1988:107).

Muito embora Stott silencie quanto ao uso do dom de profecia e curar; não recomenda o falar em línguas com as expressões fortes, que torna o dom desnecessário hoje. Nada justifica o uso do dom quer em público, quer individual; porque nenhum dom é dado para edificação pessoal, diz ele. Inclusive é difícil justificar tal posição. A conclusão stottiana, é que Paulo fazia um sarcasmo ou ironia, e os Coríntios saberiam entender (Stott, 1988:108). Mas ao lermos 1 Co 14.4,13,39 encontramos pistas do engano de Stott, pelo facto do texto ser enfático que, quem fala em língua edifica a si mesmo... deve orar para interpretar, e que não se pode proibir. Stott, parece equivocar-se quando desconsidera a afirmação edifica a si mesmo, e os imperativos ore para que possa interpretar e o não proibais o falar em línguas.

John MacArthur Jr. - Vê-se motivado a escrever diante da notoriedade dos carismáticos denominado terceira onda. MacArthur é contundente em combatê-los; mesmo diante das afirmações de que os atuais profetas são falíveis, que precisam ser julgados segundo o padrão bíblico (1Co 14.29), e que não estão em pé de igualdade com as escrituras. Apoiando o cessacionismo, limita historicamente Atos 10 com a seguinte argumentação:

"Esses fatos ocorreram por motivos específicos nesse período de transição histórica. Os gentios receberam o Espírito Santo no momento da conversão. Falaram em línguas como prova cabal de que eram parte da igreja. No entanto, não há qualquer subseqüência em Atos 10! Unger afirmou: “Assim como o Pentecostes foi introdutório no sentido de inaugurar uma nova era, assim também Atos 10 é terminal no sentido de marcar consumação do período introdutório e o estabelecimento do curso normal na nova era” (MacArthur, 1992:243).

Em conclusão das passagens de atos 10 e 19, MacArthur argumenta o seguinte:

“Esses acontecimentos não deveriam tornar-se padrão para toda a igreja; nem representavam a experiência cristã normal na igreja do século I. Eram acontecimentos excepcionais, únicos, que envolviam apenas um número limitado de crentes e demonstravam vividamente o processo pelo qual os cristãos tornavam-se um em Cristo.

Alegar que a norma é as pessoas crerem em Cristo e, algum tempo depois, receberem o batismo do Espírito Santo, com a evidência do falar em línguas, equivale a torcer o livro de Atos usando uma estrutura teológica criada pelo próprio exponente dessa ideia" (MacArthur, 1992:246).

Que o Pentecostes era um sinal que marcaria o início da igreja podemos encontrar evidências nas palavras do próprio Jesus em Atos 1, mas, não encontramos evidências suficientes de que Atos 10 seja o fim do “Pentecostes”, se é o fim, então o que dizer de Atos 19, um evento subsequente? Outra questão que merece atenção, é, já que curas, línguas e profecias eram também sinais que identificavam a igreja, hoje, tal evidência também é exigida, pois afinal ainda estamos na "dispensação" do Espírito Santo e o mesmo não faz acepções (Jo 16; At 10.34); na explicação cessacionista de MacArthur (MacArthur,1992:247), a igreja tornou-se uma…(judeus e gentios), mas, quando ela deixou de ser uma? A igreja de Cristo é outra ou dividiu-se? Também não parece ser verdade tornar norma que ao crer em Jesus, o ato subsequente, seja receber o Espírito Santo com evidência física de falar em línguas, como foi o caso de Atos 10 e 19. Pode ser tanto uma coisa como outra, ou ambas ao mesmo tempo, se os crentes de Atos 19 não falasse em línguas não estariam unidos a Cristo? Óbvio que não, aquela não era e nem é a única evidência de que alguém uniu a Cristo. Logo parecem ser fracos os argumentos cessacionistas. Passemos a ver o que dizem os pentecostais/carismáticos.

 

2. OS PENTECOSTAIS/CARISMÁTICOS

 Ernet Sandeen, que salienta o reaparecimento dos dons na história, cita profecias e outros dons do Espírito na Revolução Francesa (Synan, 2009:37-40). Edward Irving, pastor presbiteriano em Regents Saquare, Londres, por volta de 1830, investigou e comprovou a manifestação dos dons do Espírito Santo, ao ser surpreendido e ver as manifestações carismáticas nos crentes, a ponto de passar a ensina-los (Synan, 2009:40-41).

Gary B. Mc Gee – Diz sucintamente sobre o pentecostalismo:

Documentos contemporâneos a respeito do movimento incluíam referências ao falar noutras línguas e à profecia. As conclusões dessa pesquisa corrigem, em parte, a crença existente em alguns círculos teológicos de que os dons espirituais cessaram na Era Apostólica... Depois de 1906, os pentecostais passaram a reconhecer, cada vez mais, que, na maioria das ocorrências do falar em línguas, os cristãos realmente estavam orando em línguas não-identificáveis e não em idiomas identificáveis (glossolalia ao invés de xenolalià). Embora Parham mantivesse sua opinião a respeito da finalidade das línguas na pregação transcultural, os pentecostais chegaram finalmente à conclusão: as línguas representavam a oração no Espírito, a intercessão e o louvor… Os pentecostais e os carismáticos estão convictos... de que "o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em virtude [poder]" (1 Co 4.20), e esperam que a pregação da Palavra de Deus seja acompanhada pelos atos poderosos do Espírito Santo (Gee, 1996:11-40).

 

 

Já Wyckoff, escrevendo sobre a necessidade dos dons do Espírito Santo na atualidade, cita James Dunn e diz:

"Os católicos enfatizam o papel da Igreja e dos sacramentos, e subordinam o Espírito à Igreja. Os protestantes enfatizam o papel da pregação e da fé, e, subordinam o Espírito (Santo – acréscimo meu) à Bíblia. Os pentecostais, no entanto, reagem a esses dois extremos - ao sacramentalismo que pode se tornar mecânico e à ortodoxia biblista que pode se tornar espiritualmente morta - e reclamam uma experiência vital com o próprio Deus no Espírito Santo" (Wyckoff, 1996:431-459).

Na sequência, Wyckoff narra o reaparecimento dos dons, e especifica o batismo no Espírito Santo, podendo ser uma bênção distinta e subsequente à conversão (Wyckoff,  1996:431-464). Seu fundamento é que em Actos 2 os discípulos já eram salvos e o fenómeno ocorre três vezes subsequentes: Pentecostes, Samaria e Éfeso (Atos 2.39; 10.19-46; 19.6), como resultado da profecia dita por Joel e estendida por Pedro dizendo: Porque a promessa diz respeito a vós, vossos filhos, aos que estão longe e a quantos Deus nosso Senhor chamar (Atos 2.39). Parece-nos coerente dizer que o Espírito Santo inspirou Joel, da mesma forma que também inspirou a Pedro para dizer que o “Pentecostes” estende-se a quantos Deus chamar, não no sentido da ordem da salvação, do envio do Espírito Santo que foi único, o próprio Senhor Jesus disse que o Consolador ficará connosco para sempre (João 14.16). Mas no sentido de uma vez estando no interior do crente após ter proporcionado a regeneração, a santificação e a glorificação na salvação[2], posteriormente capacita, reveste de poder e prepara esse crente para promover a edificação quer da igreja, quer de si mesmo para vencer os embates da vida (1Co 14.4; Lc 10.19). O texto de Atos ajuda-nos entender o argumento de Wyckoff nas palavras de Pedro em Atos 11.15-17(...caiu o Espírito Santo sobre eles, como também a nós no princípio. E lembrei-me do dito do Senhor ... sereis batizados com o Espírito Santo ... Deus lhes deu o mesmo dom ...), aqui, Pedro está a referir-se à extensão do “Pentecostes”, por respaldar suas palavras no dito de Jesus (At 1.6-8), nas expressões mesmo dom que a nós... como a nós no princípio ... e últimos dias (At 2.17; 11.15-17), esta última abrange o período da decida do Espírito Santo até a volta de Jesus, é desta extensão que falamos. Logo, trata-se tanto do cumprimento da promessa de Joel, quanto o dito de Jesus que enviou o Espírito Santo (uma única vez/para sempre), bem como o sinal que autentica (como a nós no princípio - línguas/profecias), estendido a tantos quantos Deus chamar (Atos 2.39). Quanto aos respectivos contextos que o Pentecostes foi num cenário judaico, Samaria num gentílico, e Éfeso num cenário misto entre Judeus e gentios  conforme descreve Gaffinin, e o enquadra na história da salvação (Grudem, 1996:23-67), o felicitamos e concordamos; o que não concordamos, é que se use o dia de Pentecostes, como dia histórico único, para limitar os carismas, uma vez que as evidências bíblicas posteriores parece evidenciar o contrário, e as descreveremos na conclusão exegética. Isto posto,  nosso próximo ato é iniciar a exegese em suas etapas.

 

3. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA EXEGESE

COMO O TEXTO FOI ESCRITO E COM QUAL FIM?

Paulo escreve para dois tipos de pessoas e com dois propósitos: (1) Alguns poucos judeus convertidos à Cristo e (2) um número considerável de gentios; (3) Com propósito de tratar das várias áreas relacionadas aos dons espirituais, pelo fato de ter sido informado de problemas nessa área e muitas desordens; (4) Aconselhar doutrinariamente para promover unidade na igreja (1Co 1.11; 14.1-5,40).

Nesta pesquisa programamos apresentar a tradução literal à medida que formos colocando os comentários, com o propósito de não perder de vista o sentido do contexto em que o termo está inserido.

 

UNIDADE RETÓRICA.

O fim da unidade anterior e consequentemente o início da seguinte é visto por duas razões: (1) Pela frase: Quanto às demais coisas ordená-las-ei quando for ter convosco; (2) a outra em 12.1 com o termo “Περὶ(a respeito de); que em conexão com “πνευματικῶν” (espirituais – pessoas ou dons) revela que uma nova questão está em evidência. O fim é visivelmente no capítulo 14.37 quando repete a questão. Logo, o termo “πάντα (tudo, todos) faz com que encontremos um incluso no final da unidade. Portanto, com as respectivas expressões: Acerca dos dons espirituais irmãos, não quero que sejais ignorantes…(12.1) e Fazei tudo com decência e ordem (14.40), É legítimo dizer que houve um início e fim.

 

GÉNERO LITERÁRIO E A SUA INFLUÊNCIA SOBRE A INTERPRETAÇÃO.

O género é uma epístola, uma carta. Quanto a influência é que precisamos levar em conta que Paulo escreveu para resolver assuntos doutrinários específicos (1.10,11); ou seja, haviam hábitos na cultura do povo de Corinto que precisavam mudar, para além dos comportamentos mundanos e ímpios que não era aceitos na vida dos conversos a Cristo (5.1). No pano de fundo quanto aos pneumátikos (espirituais, pessoas ou dons), havia uma preocupação de ensinar/corrigir os crentes para deixar às influências pagãs (12.3). Contudo, o foco aqui é tratar os pneumátikos – os dons espirituais (14.1-40). Aqui Paulo está doutrinar/corrigindo a igreja a respeito do uso dos mesmos. Ela tinha abundância deles, mas quanto ao uso estava sem ordem e não entendiam o objetivo, a razão e como deveriam coloca-los em prática, e também, qual era a maior ênfase. Assim, o escritor usa um gênero muito comum na época, a epístola, a fim de comunicar sua necessária doutrina. Daí a importância e influência do género, que culminará na conclusão como resultado para aplicação prática.

 

CONTEXTO

Estrutura de todo livro/carta de 1Corintios, o propósito é situar o texto no contexto geral da missiva.  

Inclusio – Saudação pessoal inicial – 1Co 1.1-9

A    - Verificação de problemas – Divisões, frações, falsa sabedoria, falso ministério – 1.10-4.5

     B    - Apresentação de solução – Chamado a reconciliação – 4.6-21

           C   - Chamada a unidade – 3.21; 1.10

    B’   - Apresentação de soluções – 7.1-40;

A’   - Verificação de problemas morais – incesto, litígio entre crentes, prostituição – 5.1-6.20

 

A    - Verificação de problemas individuais não público – Problemas com a liberdade, alimento dedicados aos ídolos (8.1-13); Sustento do obreiros (9.1-24);

B    - Apresentação de solução – Conselhos – 10.24-11.1

 

            C – Chamada para autocontrole/equilíbrio/domínio – 9.25-27

 

A’   - Verificação de problemas que envolve a coletividade – Ordem no culto    público, conduta das mulheres, conduta na Ceia, conduta nos dons    - 11.2-14.39

       B’   - Apresentação de solução – Tudo com decência e ordem – 14.40

 

A    - Verificação do problema  sobre a ressurreição –  destino do corpo – 15.1-35

      B    - Apresentação de solução – o que sucederá ao corpo – 15.36-57

            C – Devemos trabalhar/contribuir financeiramente … porque ainda que morramos nada Será em vão – 15.58 

A’   - Verificação de problema com as coletas – destino da coleta – 16.1

    B’   - Apresentação de solução – o que sucederá as coletas – 16.2-4

 

Inclusio – Saudação pessoal final – 16.5-21

 

O escritor inicia e termina a carta/livro com saudações pessoais; isto reforça a ideia típica de um género literário comum na época de Paulo, a epistola. A seguir, o escritor desenvolve o assunto com uma estrutura que parece apontar para estrutura paralela, onde no desenvolvimento da carta/livro o escritor encontra problemas e depois no B, ele apresenta as respectivas soluções; apontando para centro do texto, podemos encontrar um princípio geral que une ambas porções A,B e A’, B’. Ficando A,B e no centro um “C” (unificador), com A’, B’.

» Na primeira seção A, o escritor encontra problemas – Divisões, frações, falsa sabedoria, falso ministério – 1.10-4.5; que paralelamente em A’ outros problemas, mas agora morais - incesto, litígio entre crentes, prostituição – 5.1-6.20. No B e B’ - Apresentação das respectivas soluções – Chamada a reconciliação – 4.6-21; chamada para contrair matrimónio ou não, como princípio de reconciliação com Deus. Do contrário pecam – 7.1-40. Apontando para o centro unificador da seção no texto está o   C   - Apelo a UNIDADE com o Senhor e o próximo – 3.21; 1.10;

 

Na segunda seção A, vejo que o escritor encontra problemas individuais não públicos – questões com a liberdade, alimentos dedicados aos ídolos, presunção, mesa do Senhor e mesa dos demónios; que paralelamente A’ - Verificação de problemas que envolve a coletividade – Ordem no culto público, conduta das mulheres, conduta na Ceia conduta nos dons - 11.2-14.39. As respectivas respostas que apresenta as soluções parecem estar em B e B’ - Apresentação de solução – Conselhos práticos – 10.24-11.1 e Conselhos doutrinários para decência e ordem – 14.40. Apontando para o centro unificador da seção no texto está o C – Combate ao individualismo (UNIDADE DO CORPO) autocontrole/equilíbrio/domínio – 9.25-27;

 

Na última seção doutrinária e fundamentalista da fé cristã à Igreja em Corinto em A, penso que o escritor verifica/encontra problemas ligados a ressurreição –  destino do corpo/parte espiritual – 15.1-35; paralelamente A’ - problema com as coletas – destino da coleta – 16.1. Respectivas respostas que apresentam as soluções também respectivas parecem estar em B e B’ - Apresentação de solução – o que sucederá ao corpo/parte espiritual (ressurreição) – 15.36-57, ligados a apresentação de solução para as coletas – o que sucederá as coletas (destino) – 16.2-4. Finalmente no centro unificador da seção no texto está  C’ – A união com o Senhor, leva-nos trabalhar/contribuir financeiramente … porque ainda que morramos nada Será em vão – 15.58.

Uma vez apresentada a estrutura que acaba por situar o assunto dos capítulos 12-14 no livro como um todo, pascemos para analisar a estrutura retórica.

 

ESTRUTURA RETÓRICA (Comunica por si mesma)

As estruturas encontradas podem ajudar a interpretação, por isso concordamos com Alexandre (2013:15-29), na primeira seção de 1Co 12, ao demonstrar uma estrutura retórica completa com: proêmio, narração, digressão, argumentação e epílogo. O proêmio (12.1-11) está na ênfase dos três verbos primordiais: (12.1) “Não quero, irmãos, que sejais ignorantes “ἀγνοεῖν” (mal informados)”; (12.2) vós sabeis “Οἴδατε”; (12.3) por isso, vos faço compreender “γνωρίζω” (compreender, saber, conhecer). Aqui está à razão o motivo pelo qual deseja ensina-los. 

A narração (12.12-31) é vista ao apresentar os elementos que a compõe: tema, razão, confirmação, contrário, analogia, exemplo e conclusão.

A digressão (cap.13) ao desvalorizar os carismas antes anunciados, pela comparação com o amor. Quem supervaloriza os carismas em detrimento do amor, nada mais é do que um crente imaturo e infantil. Para além de encontrar um quiasmo que, na harmonia da sua ordenação simétrica, também fala por si (13.8-13).

 

A    O amor (ἀγάπη ) nunca falha (v.8);

B    Mas,

           Se houver profecia (προφητεῖαι), ela desaparecerá

          Se houver línguas(γλώσσῃ), elas cessarão

          Se houver conhecimento (γνῶσις), ele passará.

C    Pois conhecemos em parte,

          E profetizamos em parte;

          Mas quando o que é perfeito vier,

          Tudo o que é imperfeito desaparecerá.

D    Quando eu era menino,

          Falava como menino,

          Pensava como menino.

 

D’   Quando me fiz homem,

          Acabei com as coisa de menino.

C’   Agora pois, vemos num espelho, de maneira confusa

          Mas depois vemo-las frente a frente

          Agora, o meu conhecimento é imperfeito

          Mas, depois vou conhecer como Deus me conhece a mim.

B’   Agora existem três coisas:

          , (πίστις)

           Esperança, (ἐλπίς )

           E o amor. (ἀγάπη ) Mas,

A’   A maior destas (a mais importante) é o amor (Alexandre, 2013:18).

 

Entretanto, o texto do capítulo a seguir, parece aqui enfatizar uma estrutura retórica quiástica em dois ângulos, vejamos:

1Co 14.1-26 - No 1º ângulo, 14.1 A - encontramos acima um assunto novo, dons espirituais (πνευματικά - pneumátika), 14.6-11 A’ - Necessidade de compreender sobre o uso dos dons espirituais em geral, 14.26 A’’  - Objetivo dos dons espirituais em geral é a edificação de todos;

14.2 B – A existência do dom de profecia/real;  14.5 B’ vantagens da profecia (edificação da igreja) abrangência do dom, alcançar a comunidade; 14.24,25 B’’ - a profecia como um sinal claro da parte de Deus à todos (crentes e descrentes na Igreja) todos ficam confortados, edificados e cônscios de que foi Deus quem falou pelo dom da profecia e não meramente alguém que abre a escritura e a explica… isso não enquadraria dentro da definição do dom pneumático: Donativo de caráter sobrenatural, dado pelo graça divina, afim de edificar, confortar e consolar (Douglas & Tenney, 2003:332);

14.2-4 C – Existência do dom de línguas; 14.5 C’ - a desvantagem de falar em línguas desconhecidas (edifica somente quem fala, a si mesmo) restrição ao indivíduo; ou se houver intérprete estende-se à igreja. Mas não há proibição e nem cessação do dom; muito pelo contrário, há um estímulo, note o verbo: procurai abundar neles, ore para interpretar; 14-23,28   C’’   - Línguas um sinal confuso aos não crentes, mas se houver interprete deve ser utilizado na congregação;

O 1º anglo fecha apontando para um centro unificador onde reflete o objectivo de Paulo, 14.12,13 D – Corrigir/ensinar a fim de promover edificação na Igreja  (ore para interpretar línguas, procure abundar nos dons).  

 

 

 

 

 

No 2º ângulo, Alexandre apresenta uma boa estrutura  de 1Co 14.26-40, (Alexandre, 2013:22):

A. Ordenar todas as coisas para edificar a igreja (26)

       B. Línguas: dois ou três, um de cada vez, com alguém que interprete (27,28)

             C. Profetas: dois ou três e os outros julguem (29,28)

                  D. Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas (32)

 

                         E. Deus é um Deus de ordem em todas as igrejas (33)

 

                D’. As mulheres, estejam caladas e submissas (34,35)

          C’. Profetas: reconheçam que o escravo é mandamento do Senhor (36-38)

     B’. Línguas: procurai com zelo o dom de profetizar e não proibais

        o  falar em línguas (39)

A’. Tudo se deve fazer com decência e ordem (40).

 

Esta estrutura que é basicamente uma conclusão de Paulo, vista pelo indicador conclusivo retórico, que fareis pois irmãos? (1Co 14.26), depois de apresentar os problemas e suas implicações, ele afirma o que deve ser feito (mais detalhes na exegese em si v.26 abaixo).

 

CONTEXTO HISTÓRICO GERAL.

Historicamente trata-se do ano que ronda os 55/56 d.C, quando Corinto era uma cidade antiga da Grécia, era em muitos aspectos, a metrópole grega de maior destaque nos tempos de Paulo. Assim, como muitas das cidades prósperas de mundo de hoje, Corinto era intelectualmente arrogante, materialmente próspera e moralmente corrupta. O pecado, em todas as suas formas, grassava nessa cidade de má fama, pela sua licenciosidade (MacArthur, 2010:1524-1525).

Juntamente com Áquila e Priscila (16.19) e com sua equipe apostólica (At 18.5), Paulo fundou a igreja em Corinto, durante seu ministério de dezoito meses ali, na sua segunda viagem missionária (At 18.1-17). A igreja era composta de alguns judeus e a grande maioria eram gentios oriundo do paganismo grego/romano. A religiosidade e vida espiritual do povo, bem como social e ética, necessitava de ajustamentos doutrinários. É neste contexto geral que Paulo quando estava em Éfeso escreve sua carta (At 20.31; 1Co 1.11). 

A LIGAÇÃO DO TEXTO COM O RESTO DA BÍBLIA E A SUA MENSAGEM

Nenhum texto pode ser tido por doutrinário para nós hoje se não houver uma harmonia com toda a mensagem Escriturística. Sem dúvida que aqui a referida existe; unidade é um dos principais temas das Escrituras como um todo. No caso de 1Coríntios unidade doutrinária, a igreja como um corpo, o funcionamento dos dons como membros de um corpo, a necessidade de unidade entre os irmãos para não ter que ir às autoridades seculares e descrentes, unidade conjugal, a união com Cristo para a ressurreição, para afastar dos ídolos, da idolatria, da prostituição, das contendas e por fim unidade pessoal com os crentes para os enviar saudações pessoais, mesmo sendo a pessoas individuais mas no contexto de unidade, a igreja. As últimas palavras de Paulo revelam unidade ao dizer o meu amor seja com todos vos, em Cristo. Ele com a igreja e ambos a Cristo. Portanto, são temas abordados ao longo de toda a Escritura Sagrada; logo, há uma real ligação com o restante da Bíblia.

 

4. EXEGESE EM SI (Análise do texto)

1Co 12.1-11

v.1 Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.

 

Conforme ja vimos na introdução acima, os versos de 1-3 introduz o assunto, porém aqui no v.1, é manifesta a razão pela qual faz-se necessário tratar o assunto “não quero que sejam ignorantes”  (οὐ   θέλω   ὑμᾶς   ἀγνοεῖν).  Em momento algum encotramos um despreso ou proibição de qualquer dom (πνευματικός) relacionado na argumentação, mas sim, um desejo de instruí-los no que de fato é ser verdadeiramente espiritual, esclareceremos melhor na anáilise do verso 8 em conecção com o verso 10;

 

v. 2 Vós bem sabeis que éreis gentios; levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados.

 

É curioso que nesta seção introdutória Paulo lembra seus ouvintes a vida que viviam antes de se converterem a Cristo (ignorantes), e que de alguma maneira estavam ligados ao domínio de ídolos; isto confirma-se pelo ênfase nos verbos “vós sabeis”  (εἴδατε) e “guiados” (ἀπάγομενοι) significa conduzidos a força.

 

v. 3 Portanto vos quero fazer compreender

 

A conjução (διο) por isso, portanto, indica que há uma mini-conclusão, onde é uma clara reafirmação que indica a razão de ser do assunto tratado, usando o “quero fazer compreender” (γνωρίζω). Portanto, os três verbos “não quero que sejais ignorantes” 12.1; “vós sabeis”; 12.2; “quero fazer compreender” 12.3,  evidência que os coríntios necessitavam de ensino, esclarecimentos e instrução, pois estavam na ignorancia.

 

Vs. 4-7 – A natureza dos dons

 

v. 4 Ora há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.

v. 5 E há diversidade de ministérios, mas o SENHOR é o mesmo.

v. 6 E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.

v. 7 Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.

 

A palavra usada para dons (χάρισμα) significa um favor dado sem merecimento, um donativo de caráter imaterial dado de graça EBM (2008:219-221). O termo em si deriva do substantivo χάρισ (graça), à qual foi acrescentado o sufixo μα, que transmite a ideia de “resultar de”, logo χάρισμα é o resultado da graça de Deus CBP (2009:231-232). Como nos versos 7 e 8 é o Espírito Santo que os dá, fica evidênte que não se trata de talentos, capacidades ou perícies naturais consedidos tanto aos crentes quanto aos ímpios, e sim, uma capacidade sobrenatural dada pela graça de Deus, a fim de promover edificação (v.7) e não para promoção, exibição humana ou externar espiritualidade, e muitas práticas que não convinha parece ser o caso dos coríntios.

Conforme já vimos a origem dos dons é divina (χάρισμα), o modo é serviço (διακονία) v.5, e a finalidade é realizações (ἐνεργημάτων). Esta palavra ἐνεργημάτων é usada para designar um ato feito, visível e exterior, revelando que os dons de Deus tem uma finalidade (v.7) e que não é algo oculto e subjetivo, para além de está centrado na trindade (mesmo Espírito v.4; mesmo Senhor v. 5; e o mesmo Deus v.6).

 

 

 

Vs. 8-10 – A classificação com propósito

 

v. 8 Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;

v. 9 E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;

v. 10 E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas.

 

Encontramos a seguinte classificação nesta seção (Gilberto, 2008:196-199): a) Dons de locução (línguas, profecia e interpretação de línguas); b) dons de inspiração (sabedoria, ciência e discenimento de espírito); dons de poder (fé, curar e maravilhas). Embora o v.7 estejam na seção anterior (primissa menor) não podemos anula-los da seção como um todo (primissa maior 1Co 12-14), os dons são dados com um propósito, edificação do corpo a igreja, embora cada um tem sua função própria “a manifestação do espírito é concedido…v.7;  um pelo Espírito é dado… o outro é dado …v.8”.  O verbo (δίδωμι) na forma prolongada pode ser empregado em vários tempos, mas neste não está no passado, o que não deixa de ser uma pista para a continuidade dos dons ainda hoje, desde que sigam as orientações também dadas pelo apóstolo em toda a seção, uma vez que essa é uma das finalidades principais do texto.

 

Administração do dom

 

v. 11 Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.

 Fica muito claro aqui que o Espírito Santo em sua soberania é quem reparte os dons conforme lhe convém, Ele é o administrador dos dons, Ele usa como, quando e o que quiser. Nessa premissa maior temos uma lista de dons, mas não significa que só exista esta e que Ele só usa esses, não, Ele dá o dom de acordo com a sua vontade e necessidade. Já que esta administração é algo exclusivo da soberania divina, nada justifica que homens limitem qualquer dom a uma época.

 

1Co 12.12-26

Nesta seção é apresentado uma figura, o corpo humano com seus membros, para ilustrar a necessidade de unidade relacionada ao uso dos dons na igreja (ver estrutura retórica abaixo).

 

1Co 12.27-30

Aqui Paulo faz uma mini-conclusão comparando a figura com os dons e reforça os que ele reconhecia como verdadeiros (embora muitos querem anular o de línguas, ele mais uma vez é listado e reconhecido, não como o mais importante, mas não é anulado, pois aparece duas vezes nesta pequena seção). Contudo, convida-nos para um caminho mais excelente o cap. 13 para exercemos o dom supremo, o amor (ver estrutura retórica sobre o cap. 13). A fim de sermos objetivos vamos ao capitulo 14.

 

1Co 14.1-5

v.1 Segui o amor. O uso deste imperativo (Διώκετε, significa correr para buscar rapidamente) era imprescindível para os coríntios na igreja, havia a manifestação dos dons, mas faltava os frutos. Nada terá sentido na igreja se não promover edificação, por isso, Paulo não abre mão do imperativo seguir o amor, o que significa que deveriam correr para alcançar rapidamente o maior dom.

 

v.1b  e procurai com zelo. (ζηλόω) buscar com ardor, desejar com muito zelo é mais um imperativo usado na lista dos pneumáticos (dons espirituais), isto indica que muito embora houvesse problemas, ele não queria desencoraja-los, apenas ensina-los quanto ao uso. 

 

v. 1c principalmente que profetizeis. O uso do advérbio (μᾶλλον mais, a um grau maior, em vez), mais a conjunção (ἵνα  a fim de que, com objetivo de) indica a superioridade do dom, sobre o de línguas (14.5), pelos motivos descritos no v.3, por isso o principalmente que.

 

v. 2 quem fala em língua. (γλώσσῃ língua não aprendida, mistérios) O fato de Paulo reconhecer que, quem fala em língua, fala a Deus e não aos homens, e ter atribuído sua origem ao Espírito Santo/Deus, e edificar a si mesmo (12.4-11), evidência que mesmo no singular, Paulo não está a falar de paganismo, que não ironizou o dom, nem o desprezou e muito menos usa de sarcasmos, muito embora quisesse ensinar que era inferior ao de profecia, que precisava de interprende, e que não deveria falar alto na congregação (14.28). Se Paulo estivesse usando um sarcasmo não atribuía ao Espírito Santo, nem ressaltava o fato de que, quem não fala pelo Espírito Santo diz que Jesus é anátema (12.3), e muito menos manifestava o desejo que todos falassem (14.5), e ainda não dizia para não se proibir (14.39). Portanto, Paulo estava a falar do legítimo dom dado pelo Espírito Santo mediante a sua graça, e que não sessava ali. 

 

v. 3 o que profetiza. (προφητεύητε - proclamar em nome de outrem) É importante dizer aqui, que os profetas do AT e NT são bem diferentes dos de hoje. Aqueles eram instrumentos de novas revelações divina, hoje, já não temos esse tipo de atuação pois cânon já está encerrado (Lopes, 2008:255-271). O profeta desta seção pode ser tanto, o que proclama a mensagem bíblica (orador) sob a inspiração do Espírito Santo, ou, pode ser quem recebe uma mensagem em seu coração/pensamentos que promova edificação, consolação ou exortação à igreja. Porém, ambos os casos necessitam de julgamento (1Co 14.29) pela Palavra de Deus (Bíblia).

v. 5 o desejo de Paulo – A manifestação do dom que edifique a igreja.

 

Vs. 6-25

Agora porém irmãos ... nesta seção destaca-se o problema da premissa maior enfrentado pelos coríntios (mau uso do dom de língua v.23), e a manifestação de suas infantilidades espirituais (v.20) por supervalorizar o citado. Mas, ensina-os progredir com intuito de edificar a igreja (v.12).

 

 

 

 

Vs. 26-40

 Que fazer, pois, irmãos? Esta pergunta retórica e conclusiva, leva-nos às orientações finais do apóstolo: (1) Quando vos ajuntais cada um de vós tem (εχει) ... tem revelação, tem língua, tem interpretação.  Faça-se tudo para edificação v.26. Aqui encontramos uma forte evidência que somam para a continuidade dos dons espirituais para além do século I, as cinco citações do verbo ter (ἔχω) no tempo presente na conclusão do texto, para além do imperativo faça-se (γίνομαι); (2) se alguém falar em línguas deve haver intérprete ou que fale baixo, consigo e com Deus v.27,28. Note que na conclusão está presente a realidade tanto do dom de profecia, quanto o de línguas, o que não permite um sarcasmo ou ironia; (3) quanto à profecia deve haver ordem, esperar um pelo outro, e que haja julgamento, não ao profeta, e sim a profecia; todos podem profetizar, mas não são obrigados porque o espírito do profeta é sujeito ao próprio profeta v.29-36; (4) Deus não é de confusão v.33; (5) se alguém considera-se espiritual deve atender ao enunciado v.37,38; (6) deve procurar com zelo profetizar e não proibir falar em línguas v.38,39; (7) Tudo deve ser feito com decência e ordem v.40 (ver os itens 3.3-8 e 4).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONCLUSÕES E EXEGÉTICAS

 

Afinal, cessaram alguns dos 9 dons relacionados em 1 Coríntios 12-14 à luz da exegese, ou não?

Como vimos a exegese não permite dizer que sim pelas seguintes razões: (1) Uma conclusão à luz da exegese não é uma conclusão que se apoia em correntes teológicas, nem em afirmações ou conclusões com base na inferência ou na hipótese, mas sim, na informação contida no texto; (2) embora concordamos com Gaffinin que o Pentecostes é único na história da salvação (envio do Espírito Santo), as evidências bíblicas posteriores dos charismas, não permitem que se use o dia histórico do Pentecostes, para dizer que cessaram. As citadas evidências são vistas uma vez que em Atos 10 os charismas são sinais de autenticação do evangelho aos gentios, Atos 19 os mesmos são sinais de autenticação do evangelho quer para judeus e gentios, por quê não seriam para a igreja que ainda hoje enfrenta dificuldades atrozes semelhantes? Não encontramos respostas claras nos textos bíblicos; (3) se as epistolas e as pregações substituem o dom de línguas, profecia e curar, porque encontramos Paulo posteriormente ao dia histórico do Pentecostes reconhecendo que, quem fala em língua, fala a Deus e não aos homens, que promove edificação pessoal, que não se pode proibir, que é útil nos cânticos (1Co 14.15b), nos louvores e ações de graças (14.16,17), queria que todos falassem (1Co 14.5), que sua origem encontra-se no Espírito Santo/Deus (12.4-11)? Como é óbvio isto constitui evidências de que mesmo no singular, Paulo não está a falar de paganismo, que não ironizou o dom, nem o desprezou e muito menos usa de sarcasmos, muito embora quisesse ensinar/corrigir que era inferior ao de profecia, que precisava de interprende, e que não deveria falar alto na congregação (14.28). Se Paulo estivesse usando um sarcasmo não atribuía sua origem ao Espírito Santo, não dizia que promove edificação pessoal, nem ressaltava o fato de que, quem não fala pelo Espírito Santo diz que Jesus é anátema (12.3), e muito menos manifestava o desejo que todos falassem (14.5), e ainda se houvesse findado, jamais dizia para não se proibir (14.39), também não dizia ...quando vos ajuntais cada um de vós tem (εχει) ... tem revelação, tem língua, tem interpretação.  Faça-se tudo para edificação v.26. Revelando evidências reais que somam para a continuidade dos dons espirituais para além do século I, inclusive, as cinco citações do verbo ter (ἔχω) no tempo presente na conclusão do texto, para além do imperativo faça-se (γίνομαι); (4) se os usos incorretos dos dons fossem evidências para finda-los, a primeira prática que deveria ter sido acabada era a ceia, Paulo dizia que era tão grave a situação, que eles reuniam para o pior e que não os louvava (1Co 11.17). Portanto, o objetivo de Paulo é claro no texto, queria somente corrigir os legítimos dons dado pelo Espírito Santo mediante a sua graça (não quero que sejais ignorantes... quero vos fazer saber... 1Co 12.2,3); isto torna evidência de que não acabou, pois a promessa estende-se a todos quantos Deus chamar (Atos 2.39), uma vez que a referida promessa dita por Pedro, refere-se aos últimos dias, abrange a chegada do Espírito Santo (Pentecostes histórico), a vós e a vossos filhos (judeus),  aos que estão longe e a quantos Deus chamar (outras nações/povos), até a vinda de Jesus; (5) também não constitui-se evidência que cessou o dom de curar, pelo pouco registo, ou até os que chegam a morrerem de uma doença, pelo fato de Deus não os curarem, as razões estão na administração soberana de Deus (12.11). Ele ainda cura quem quer, e o texto não possui evidências a dizer que findou; (6) finalmente, usar Atos 8, 10 e 19, bem como os problemas no mau uso dos dons em 1Corintios para dizer que é temporal e restrito aos apóstolos, parece-nos ser claramente inferências, especulações de correntes teológicas, influências de tradições teológicas e não uma demonstração clara a partir da exegese do texto Sagrado. Portanto diante das várias evidências apresentadas ao longo da presente pesquisa, não recomendamos o cessacionismo.

 

 

 

 

 

 

ABSTRACT

 

Churches called " evangelical " in the four cities that make up the vast Vitória, State of Espírito Santo, Brazil, facing an internal dilemma , caused by the conflict between believing in the actuality of some of the gifts listed in 1 Corinthians 12 and others not. The problem has been seen in the debates promoted by webs Amazon gospel radio and radio Cor da vida, representatives of churches where pastors not charismatic and Pentecostal charismatic and even when we present and discuss the situation. Moreover, the problem is confirmed also in the social networks of believers belonging to these churches. I wonder about the influence of the fact that some churches do not believe in the actuality of all nine gifts listed in 1 Corinthians chapter12, in full use in the church today, and why the neglect of three of them, especially tongues, prophecy and gifts of healing. In this research we aim to: Make a brief analysis of the historical problem / theological thoughts (1) cessationists and (2) continuist, (3) presentation of stages which requires exegesis, and (4) the exegesis itself 1 Corinthians 12-14 focusing on gifts tongues, prophecy and healing and finally, evaluation and conclusive exegetical general. The objective is to ascertain the exegesis, which really it says about spiritual gifts in 1 Corinthians, including the three most "controversial", and who knows if even we should not recommend some. This research is done from the perspective of the classical Pentecostal tradition. This is, broadly follows the Reformed tradition, but with the opening today in the gifts listed in the New Testament and some differences in Soteriology.

 

 

KEYWORDS:

Dons , charismatic , Pentecostal gifts of the Spirit , tires.

 

 

 

 

 

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[1] Nas quatro cidades que compõem a grande Vitória, Estado do Espírito Santo, Brasil.

[2] Pentecostes sem as aspas, como pertencendo à história da salvação, uma só vez.